sábado, 22 de outubro de 2011

POKER FACE - texto extraído do sexto episódio da sétima temporada de Grey's Anatomy


"Quando ainda bebês somos fáceis de decifrar. Um choro e estamos com fome, outro e estamos cansados. A coisa só dificulta quando nos tornamos adultos. Começamos a esconder nossos sentimentos. Erguemos barreiras. Chegamos ao ponto em que nunca sabemos realmente como alguém pensa ou se sente.
Sem querer, nos tornamos mestres em disfarces.
Nem sempre é fácil se expressar. Às vezes precisamos ser forçados. Mas, às vezes é melhor apenas guardar o que sentimos. Fazer-se de mudo. Mesmo quando todo o seu corpo está implorando para se libertar.
Então, você fecha sua boca, mantêm o segredo e encontra outras maneiras de ser feliz." 

sábado, 1 de outubro de 2011

Os 4 Fs.

Amanhece e me sinto em uma propaganda de margarina ou em uma cena de um filme com final feliz. De repente tudo fica claro. Tudo se encaixa e nada parece fazer falta. Sei o que tenho que fazer e quem sou.
Me pego olhando no espelho e vendo o quanto sou bela e única. Pois é, por mais piegas ou clichê que isso possa soar, essa é a verdade. Somos, na maioria das vezes, seres belos e únicos. Ok, ainda existem seres acéfalos que insistem em ser mais uma cópia do mesmo. Mas a grande maioria já despertou para a realidade do milênio. Podemos e devemos ser o que somos, individualmente e diferentemente. O que não vale é se julgar superior ou o topo da cadeia evolutiva. O que não é justo é o desrespeito e a incapacidade de amar algo além da própria imagem. O que nos destrói e nos destitui de qualquer beleza é o eterno culto ao egoísmo, ao hedonismo e ao narcisismo. Essa tríplice aliança, inevitavelmente, nos conduz ao exílio emocional e eventualmente, ao exílio físico.
Essa enxurrada de ideias que me assola hoje é uma luta interna, quase inerente ao meu respirar.
Meus neurônios confabulam e me alertam sobre o próximo passo. Exigem uma atitude estratégica e racional que resultará em algo positivo e seguro.
Já meu desejo de ser um trem desgovernado e pronto pra destruir tudo a minha frente, ou de me jogar pelo mundo sem destino ou paradeiro, grita e me confunde.
Amanhece e me sinto em um drama mexicano ou em um filme do Tarantino.
Sou inundada por inúmeras vontades e loucuras todos os dias. Tudo conspira para isso. Novas oportunidades e novos prazeres saltam em cada esquina que resolvo dobrar. Meu trajeto nunca parece ser a definição de uma reta. Nada parece estar ao menor alcance. Todo caminho que penso em tomar abriga novas promessas. Olho para o espelho e repito: "Foco, força, fé e foda-se!".

Sobre o meu post "Os 4 Fs".

"O Direito ao Palavrão"
[Luís Fernando Veríssimo]

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a “vulgarização” do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.

“Pra caralho”, por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que “Pra caralho”? “Pra caralho” tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas Pra caralho, o Sol é quente Pra caralho, o universo é antigo Pra caralho, eu gosto de cerveja Pra caralho, entende?

No gênero do “Pra caralho”, mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso “Nem fodendo!”. O “Não, não e não!” e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade “Não, absolutamente não” o substituem. “Nem fodendo” é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo “Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!”. O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o “porra nenhuma!” atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um “é PhD porra nenhuma!”, ou “ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma! . O “porra nenhuma”, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos “aspone”, “chepone”, “repone” e, mais recentemente, o “prepone” – presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um “Puta-que-pariu!”, ou seu correlato “Puta-que-o- pariu!”, falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba… Diante de uma notícia irritante qualquer um “puta-que-o- pariu!” dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

Seja simples: Foda-se.
E o que dizer de nosso famoso “vai tomar no cú!”? E sua maravilhosa e reforçadora derivação “vai tomar no olho do seu cú!”. Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: “Chega! Vai tomar no olho do seu cú!”. Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: “Fodeu!”. E sua derivação mais avassaladora ainda: “Fodeu de vez!”. Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? “Fodeu de vez!”.
Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de “foda-se!” que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do “foda-se!”? O “foda- se!” aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. “Não quer sair comigo? Então foda-se!”. “Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!”. O direito ao “foda-se!” deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!.