segunda-feira, 17 de novembro de 2008

VISITAS QUE SURPREENDEM

Ao visitar o blog de uma artista chamada Ju Padilha (cheque ao lado a sessão "Enjoy"), fui parar em um outro blog, o "Olha que maneiro". Nele, o publicitário mineiro Guilherme Bandeira, faz questão de dividir tudo que encontra de maneiro por aí. Existem coisas geniais, maneiras mesmo. O que mais me calou foi a exposição de um artista hiper-realista de origem australiana chamado Ron Mueck. Suas obras e tais concepções, são fantásticas. São quase surreais na presença de tanto realismo! Atreva-se e surpreenda-se como eu.

sábado, 15 de novembro de 2008

A ORQUESTRA DOS VIZINHOS


Ah o feriado! Que alegria! Todos em casa, curtindo. As cadeiras de praia correm para as calçadas, os carros para as ruas e toda garagem abriga um churrasco com pagode. Cada um na sua. Opa... não exatamente. Eu moro em um prédio. 72 apartamentos. 72 estilos "musicais" em conflito eterno. Nada como acordar com Seu Jorge e sua mina do condomínio berrando e travando uma batalha sem fim com Avril Lavigne e seu skater boy. As armas? O timbre de suas peculiares vozes em volumes cada vez mais ensurdecedores. Aquele sono gostoso e sagrado das 8 da manhã se rende diante de tamanha digladiação. A máquina de lavar não pode se conter e dança freneticamente, chega a rebolar. Os liquidificadores começam a sinfonia do pudim de leite e as crianças celebram nos corredores com suas bolas e patins. A mãe aproveita seu tempo junto à sua cria para praticar seu monólogo: "Quem é esse lindinho?...agora....dá um sorrisinho...mamãe ama você...dá...dá..." O pós almoço é coroado com o abençoado silêncio da "siesta" e do "comi muito, vou deitar", mas logo é interrompido pelo atual maior espetáculo da terra: o futebol! Palmeirenses e São Paulinos no mesmo bloco da arena. A cada ameaça de gol, uma ameça de terremoto seguido de desabamento. E a batalha segue sem mortos, deixando apenas alguns ouvidos vilolentados e feridos. E eu realmente acreditava que a liberdade de um vizinho terminava quando a de um outro começava. Mas que bobagem, não estou falando de vizinhos, mas sim de gladiadores "gargantuais".

PARA DANILO


Olho, boca, beijo... mistura
Saliva
Suor
Sorvete
Sabão
Sublime
Sensação
Vida, vulcão
Véu
Vento

Alcance
Viagem
Céu.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

MENINAS

Uma de minhas lindas alunas adolescentes se aproximou, meio acanhada e sem jeito, para me dizer que iria ter que usar óculos por um tempo. Naquele exato momento, um resumo da minha conturbada adolescência parecia estar diante de mim.
Estávamos no ano de 1988, eu com apenas catorze anos, vivia minha primeira grande e frustrante paixão. Nem preciso dizer que os tempos eram outros e que eu ainda era uma, como dizem hoje, BV (boca virgem). Na verdade, eu representava a pureza e virgindade em todos os sentidos! Eu nunca tinha me apaixonado, nunca tinha sido magoada por um menino insensível, portanto nunca tinha experimentado o friozinho na barriga ao ver a razão de meus suspiros e devaneios, tampouco tinha sido varrida por aquele bando de perguntas e inseguranças de uma menina contaminada pela paixão. Sim, aos catorze, a paixão muito se assemelha a uma doença contagiosa que em pouco tempo se torna uma epidemia. De repente, todas as minhas amigas sofriam desse mesmo mal.
Pensando melhor, não me lembro de ter tido amigas verdadeiras aos catorze. Acho que estávamos todas sob algum efeito colateral da "paixonite aguda". Prefiro acreditar que esse tenha sido o motivo.
Como todo grupo, tínhamos a nossa "reunião". Em alguns lugares esse oásis teen era chamado de "brinca" ou brincadeira dançante, para os de língua menos preguiçosa para falar. Para falar, por que para beijar, todos pareciam bem dispostos a serem prolixos. Aonde cresci, a "brinca" era chamada de "bailinho". O "baillinho" geralmente, acontecia na garagem da casa dos pais de um dos "contaminados" e contava com um globo espelhado no teto, pouca luz, muita música lenta, várias cadeiras enfileiradas, refrigerente e pais espiando pela porta da garagem de tempo em tempo.
O esquema funcionava assim: as meninas ficavam sentadas nas cadeiras enfileiradas em um lado da garagem e os meninos ficavam nas cadeiras enfileiradas no lado oposto. A música rolava e nós meninas, sentadinhas, rezávamos para que nosso paquera nos tirasse para dançar. Se isso finalmente acontecesse, passávamos a rezar para que ele continuasse dançando com a gente por mais de uma música. Era a glória!
Recentemente contaminada, naquele ano fui convidada para meu primeiro, de muitos, chá de cadeira. Eu era muito alta para minha idade, magra demais, sem peito(uma tábua) e usava aparelho. O "bailinho" rolou e eu continuei parada, rezando. Ainda bem que não foi logo na primeira vez que eu fui parar em uma versão mais cruel dessa brincadeira, onde os não escolhidos terminavam dançando com uma vassoura. Quem será que teve essa idéia? Enfim, com apenas alguns arranhões em minha auto-estima, sobrevivi.
Decidida a tentar mais uma vez, coloquei uma roupa linda, uns band-aids nos arranhões e passei para o próximo "round". Ao chegar na garagem, logo de cara eu o vi. A tremedeira já tinha começado quando uma amiga me agarrou e disse: "Fiquei sabendo que ele quer dançar com você hoje!" Eu fiquei parada por uns segundos, tentando entender. Será que tinha sido a roupa? Sentei e a espera, dessa vez mais angustiante do que nunca, começou. Depois de umas três músicas, o improvável, finalmente aconteceu. Meu lindinho caminhava em minha direção. Eu só conseguia ouvir o meu coração batendo e então ele parou, tenho certeza de que naquele segundo, meu coração parou e só voltou a bater quando ele falou comigo: "Quer dançar?" Para uma menina, isso devia ser o mais próximo do céu. Mais do que ganhar uma Barbie nova! As Barbies estavam ficando para trás. Tínhamos as versões do Ken e do Bob em tamanho real e não precisávamos mexer os braços deles. Eles faziam tudo sozinhos e ainda por cima, falavam!
A música era "Coming around again" da Carly Simon. Ainda posso ouví-la perfeitamente. Nossas bochechas estavam coladas, um verdadeiro "cheek to cheek". A mão forte dele segurava a minha e como um cavalheiro, ele conduzia nossos passos. Ele não disse uma palavra. Eu também não. O silêncio era preenchido pela música que para mim dizia tudo: "I do believe, I believe in LOVE..." Eu estava tão extasiada com cada segundo que não me deixei abater pela incerteza de mais uma dança. Eu AINDA sabia aproveitar cada momento sem nenhuma pressa ou inquietação. Uma pausa para a próxima música e ele olhou nos meus olhos, me abraçou novamente e me conduziu por entre as suaves notas de mais uma música. Ao final da segunda música, o final do encanto. Fui "devolvida" às cadeiras e ali passei o resto da minha ilusão. Sem nada entender, senti. Senti um misto de alegria e confusão.
A primeira tristeza, aparentemente sem fim, e a primeira desilusão, aconteceram na manhã seguinte. A mesma amiga, que antes portava as palavras que eu tanto desejava ouvir, agora vinha me açoitar com a verdade imoral e insensível. Tudo não havia passado de uma aposta. Ele, aos dezesseis, ganhou duas caixas de cerveja de um amigo mais velho, para dançar com a "esquisita apaixonada". Eu, aos catorze, ganhei o primeiro vazio no coração.
De volta a sala de aula, no ano de 2008, olhei bem nos olhos de minha aluna e disse: " É por pouco tempo. Eu tive que usar aparelho. Hoje não preciso mais!" Ela sorriu como se entendesse que todas essas aflições da adolescência são temporárias.

FEELINGS...

Sentada ao piano, Nina Simone, a deusa de ébano de voz levemente rouca, já se sentia indignada ao se ver como mais uma vítima de sentimentos que insistem em nos arrebatar subitamente e sem qualquer tipo de alvará. "I wish I´d never lived this love...hope this feeling never comes again..."
Como entender as condições que originam tantas canções de amor?
Assistindo ao trailer do novo filme de Guel Arraes, "Romance", mais uma vez me vi tentando entender algo que inúmeros antes de mim haviam tentado. Pude imaginar Shakespeare sem saída, sem ter como prever e narrar a continuação do romance de Romeu e Julieta, pensando em uma morte trágica e simbólica para esse sentimento tão misterioso e imprevisível. Já li em algum lugar que o romance teria acabado nas primeiras dificuldades, como a falta de dinheiro e os filhos a chorar no quarto ao lado. Eu prefiro acreditar que o obstáculo se encontra em nossas atitudes.
A personagem de Wagner Moura em "Romance" diz para sua mulher, a qual está tendo um caso, que ela está apaixonada por uma pessoa que não existe, uma invenção. Ela rebate dizendo: " A pessoa por quem a gente se apaixona, é sempre uma invenção..." Não posso deixar de me lembrar da sensação incontrolável de perda que senti, de alguém que nunca tive e que criei só pra mim. Era como sentir fisgar, um orgão recentemente amputado. Como essa dor podia existir se ele mesmo não existia mais?
Nós meninas, crescemos ouvindo estórias sobre o príncipe, que em um cavalo branco, chega para nos resgatar de nossa vida tediosa e rotineira. Ninguém nos contou sobre o castelo que teríamos que administrar e sobre o mundo de afazeres domésticos e obrigações maternas do reino encantado. Ninguém nos disse que a princesa biscatinha do reino ao lado poderia jogar suas tranças pra cima de nosso heróico cavaleiro. Muito menos nos contou, que poderíamos dormir com um príncipe disposto a tudo para nos beijar, e acordar com o capeta, rei da indiferença e da soberba, ao nosso lado. O capeta mesmo, por que o sapo pelo menos deixava claro desde o princípio suas verdadeiras intenções: " Me beija aí que eu te recompenso...". Não nos foi dito que não existe "e viveram felizes pra sempre..." e que para sempre é muito tempo. Não crescemos acreditando que a felicidade é efêmera e que pode ser sentida em coisas bobas e simples. Demoramos muito para perceber que a falta de dinheiro e a criança chorando no quarto ao lado fazem parte do pacote "Reino Encantado" e que nem por isso ele deixa de ser mágico e misterioso. Somos tão doutrinadas e resignadas que preferimos acreditar que nosso príncipe caiu e está em coma ou então que nosso cupido tem Mal de Parkinson. Fantasiamos até o fim. E nesse conto de fada sem final feliz, a única bruxa malvada querendo nos envenanar com uma maçã, é nossa imaginação.

RE(ENCONTRO)

A porta do metrô se abre. Ele entra... - Oi, tudo bem? - abaixa-se para tocar sua face que agora já corava. - Tudo! - ela, sentada, responde tentando evitar o incrível filme que passava por sua cabeça. - Ainda trabalha no hospital São Lucas? - ele não pode deixar de observar cada detalhe e continua examinando-a enquanto ela responde: - Sim! Só estou aqui por esses lados por que estava em uma entrevista. - Ah! Tá querendo sair de lá? - Tô. - Alguma pressão? - Só minha, agora eu saio ou eu...saio! Não tem mais jeito. Não aguento mais! - Você casou? - Não. - e nesse momento ela se sente mais só do que nunca. - E você? - Casei! Vai fazer três anos já! Mas me conta, onde você está morando? - Na cachoeirinha mesmo! - Ah! Você continua no mesmo lugar? - Não exatamente. Moro umas duas quadras pra baixo da antiga casa. - ela começa lembrar do primeiro dia em que ele cruzou aquele portão... - Então é bem perto. - É sim. É meu lá. Não é lá essas coisas mas fugi do aluguel. - Bom! E sua mãe como está? - Tá bem. E seu pai, melhorou? - Meu pai faleceu ano passado... - Sinto muito. - Passei por uma barra viu! Só Deus sabe...Mas agora tá tudo bem. - Que bom. E sua mãe e sua irmã? - Tão bem. Liga pra minha mãe. Ela vai gostar de falar com você. - Ligo sim. - e então ela pensa em tudo o que passou ao lado desse homem que agora estava em pé na sua frente com o mesmo olhar de sempre e uma aliança no dedo. - Tá com cabelo branco hein?! - Pois é...- responde furiosa! Como ele se atrevia a dizer que ela estava ficando velha!!! - Então, anota o número da minha casa. - Um minuto só. - abaixa-se para pegar uma caneta e um pedaço de papel. - É 3342 55 63. - Posso te ligar na sua casa? - Pode sim. Liga e a gente marca de fazer alguma coisa. - Posso ligar então? - Anota o meu celular vai... - Fala. - É 9422 15 63. Pode ligar a qualquer hora. - Vou ligar mesmo. - Liga sim, aí a gente sai... - Tá. - ela não pode deixar de imaginar como será esse encontro.Que provavelmente nunca irá acontecer. Aquele que ambos queriam, mas que ambos sabem que não é mais possível . ESTAÇÃO SÉ. CONEXÃO COM A LINHA VERMELHA. DESEMBARQUE PELO LADO ESQUERDO. - Bom, eu desço aqui. Me liga. Foi bom te ver. Vamos colocar o papo em dia. - Ok. Te ligo sim, tchau. - ela o beija no rosto sentindo uma enorme sensação de vazio! A porta do metrô se abre e ele lentamente se afasta. É inevitável o cruzar de olhos quando ele olha pra trás. Ela pensativa, segue viagem e guarda cuidadosamente o papel e a imagem daquele homem tão comum que um dia fora o seu tão extraordinário homem.

SOMOS TODOS CEGOS?

Acabo de voltar do cinema um pouco menos cega. Em "Blindness" o diretor Fernando Meirelles clareou, mesmo que parcialmente, minha relação com a "Lei da Igualdade". Segundo tal lei somos todos iguais perante Deus e temos o mesmo sol a nossa mercê. Nascemos sob as mesmas condições sejamos ricos ou pobres, homens ou mulheres, saudáveis ou doentes, e o que nos torna diferente uns dos outros é a maneira como "enxergamos" a vida em si e a maneira como usufruímos de nosso livre arbítrio.
Após ter tido a sufocante experiência de 121 minutos de cegueira, posso dizer em resumo, que o que nos diferencia então, são nossas "escolhas".
Não pude deixar de pensar na personagem da ala 3.Cego de nascença, escolhe usar seus "super poderes" para ser um dos reis dos "recém cegos". Acredito que sua vida até aquele momento possa ter sido frustrante e que, ser enfim "superior" tenha sido tentador, mas também não posso deixar de notar profundo egoísmo em tal escolha. Daí, começo a acreditar que um dos grandes causadores de toda a "cegueira" humana é o egoísmo.
Estamos todos tão preocupados com nossas próprias dores, medos, frustrações, ambições e alegrias, que passamos a maior parte do tempo olhando somente para nossos umbigos, sendo ofuscados por nossos egos e pelo cruel "salve-se quem puder". A personagem feminina me faz pensar numa outra questão. Se conseguimos ver além, se já conhecemos o melhor caminho, por que não guiar os ignorantes desprovidos de luz, mesmo passando por cima dos próprios limites terrenos, como o orgulho? Ainda não consigo ver claramente o que realmente a motivou para o sim, mas com certeza consigo vislumbrar.
Gosto particularmente, do final do filme. Em meio ao caos, a escuridão e a lembrança ainda em carne e viva dos horrores vividos, as personagens que num primeiro momento do filme já haviam se encontrado ou viviam juntas, conseguem, ainda cegas, se ver de verdade pela primeira vez.
Fico com essa imagem para iluminar e guiar meus passos em minha própria escuridão, me impedindo assim de tropeçar em meu egoísmo ou até mesmo, em meu orgulho.