segunda-feira, 10 de novembro de 2008

RE(ENCONTRO)

A porta do metrô se abre. Ele entra... - Oi, tudo bem? - abaixa-se para tocar sua face que agora já corava. - Tudo! - ela, sentada, responde tentando evitar o incrível filme que passava por sua cabeça. - Ainda trabalha no hospital São Lucas? - ele não pode deixar de observar cada detalhe e continua examinando-a enquanto ela responde: - Sim! Só estou aqui por esses lados por que estava em uma entrevista. - Ah! Tá querendo sair de lá? - Tô. - Alguma pressão? - Só minha, agora eu saio ou eu...saio! Não tem mais jeito. Não aguento mais! - Você casou? - Não. - e nesse momento ela se sente mais só do que nunca. - E você? - Casei! Vai fazer três anos já! Mas me conta, onde você está morando? - Na cachoeirinha mesmo! - Ah! Você continua no mesmo lugar? - Não exatamente. Moro umas duas quadras pra baixo da antiga casa. - ela começa lembrar do primeiro dia em que ele cruzou aquele portão... - Então é bem perto. - É sim. É meu lá. Não é lá essas coisas mas fugi do aluguel. - Bom! E sua mãe como está? - Tá bem. E seu pai, melhorou? - Meu pai faleceu ano passado... - Sinto muito. - Passei por uma barra viu! Só Deus sabe...Mas agora tá tudo bem. - Que bom. E sua mãe e sua irmã? - Tão bem. Liga pra minha mãe. Ela vai gostar de falar com você. - Ligo sim. - e então ela pensa em tudo o que passou ao lado desse homem que agora estava em pé na sua frente com o mesmo olhar de sempre e uma aliança no dedo. - Tá com cabelo branco hein?! - Pois é...- responde furiosa! Como ele se atrevia a dizer que ela estava ficando velha!!! - Então, anota o número da minha casa. - Um minuto só. - abaixa-se para pegar uma caneta e um pedaço de papel. - É 3342 55 63. - Posso te ligar na sua casa? - Pode sim. Liga e a gente marca de fazer alguma coisa. - Posso ligar então? - Anota o meu celular vai... - Fala. - É 9422 15 63. Pode ligar a qualquer hora. - Vou ligar mesmo. - Liga sim, aí a gente sai... - Tá. - ela não pode deixar de imaginar como será esse encontro.Que provavelmente nunca irá acontecer. Aquele que ambos queriam, mas que ambos sabem que não é mais possível . ESTAÇÃO SÉ. CONEXÃO COM A LINHA VERMELHA. DESEMBARQUE PELO LADO ESQUERDO. - Bom, eu desço aqui. Me liga. Foi bom te ver. Vamos colocar o papo em dia. - Ok. Te ligo sim, tchau. - ela o beija no rosto sentindo uma enorme sensação de vazio! A porta do metrô se abre e ele lentamente se afasta. É inevitável o cruzar de olhos quando ele olha pra trás. Ela pensativa, segue viagem e guarda cuidadosamente o papel e a imagem daquele homem tão comum que um dia fora o seu tão extraordinário homem.

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